17/10/2013

Filmes que Marcaram: Rui Sousa, Companhia das Amêndoas





Escolher um filme que me marcou - e lá está, começar logo o meu texto com este dito já o torna uma fonte de clichés - é-me muito difícil. Escolher cinco ainda é pior. Mas talvez consigo reduzir as minhas escolhas aos três indispensáveis que me mudaram a vida para sempre. Se tivesse de por mais do que um trio teria de dar muitas voltas à cabeça, mas acho que assim consigo ser muito razoável. Os filmes que me marcaram são estes três... e depois todos os outros que adoro. São as fitas que tenho de revisitar, no mínimo, uma vez a cada ano. Fazem parte de mim, é o que eu posso dizer para justificar estas escolhas.

O GRANDE DITADOR
Talvez foi este filme que me fez passar de "consumidor ávido de filmes" para "cinéfilo". Tinha onze anos quando o vi pela primeira vez, quando ainda achava graça ao Chaplin por causa das suas curtas metragens mudas, e foi «O Grande Ditador» que me abriu portas para ver todas as suas outras longas, ou pelo menos a maioria delas. Considero este um filme genial, e a melhor obra de Chaplin. Não por ter sido a primeira, mas porque me deu uma dimensão do Homem que nunca teria imaginado deste artista. Ele tinha receio dos filmes falados e da pouca durabilidade que estes poderiam ter em relação ao Cinema mudo, mas - e desculpem a linguagem - ele deixou aqui um trabalho do caraças, tal como, mais tarde, com «Monsieur Verdoux» e essa obra fantástica da boa "deprimência" dramática que é «Luzes da Ribalta». Ouvir o discurso final de «O Grande Ditador» (sim, é o melhor monólogo da História do Cinema, tenho dito e não volto atrás!) e ver toda a corajosa crítica social e política que Chaplin faz, em plena II Guerra Mundial, aos horrores do nazismo (e na altura, a opinião pública só estava ao corrente ainda de uma pequena parte de todo o sistema de terror de Adolf Hitler) continua a surpreender, a emocionar e a arrepiar hoje. E Hitler ainda viu este filme duas vezes e já tinha pedido para rever outra... será que ele próprio achou graça à chacota de Chaplin? 
Nunca saberemos. Mas o maior artista do Mundo deixou aqui um dos seus trabalhos imortais que, mesmo que falado e numa língua específica, consegue tocar a qualquer ser humano.




O PADRINHO I/II
A primeira vez não foi muito boa, porque estive a visionar esta obra prima a horas pouco decentes e, com tanto sono, fiquei confuso com o filme. Vá-se lá saber porquê. No dia a seguir revi-o e hoje... já deve ter passado pelos meus olhos umas vinte vezes! 
E depois do primeiro, o segundo tem de vir logo de seguida! «O Padrinho» é uma saga inigualável e inesquecível, de um realizador que teve a década de 70 a seus pés (realizou também os excecionais «The Conversation» e «Apocalypse Now»), e que será desculpado por todos os fracos projetos em que se envolveu desde então por causa deste quarteto de fitas. «O Padrinho» é a amostra da verdadeira essência da arte cinematográfica, onde nada está mal feito e tudo encaixa, sempre de formas diferentes, de cada vez que nos reencontramos com a família dos Corleone. Gosto tanto do I e do II que me é impossível dizer qual é o melhor, mas tenho pena que haja mentes brilhantes nas TV's que, como têm a Parte III disponível para exibir, só transmitem essa e muitas pessoas que eu conheço só viram esse «Padrinho» por causa disso. É uma tristeza. Vejam os dois primeiros e o terceiro só para complementar. Mas a excelência está nos dois primeiros tomos da saga de Mario Puzo e Francis Ford Coppola.





ERA UMA VEZ NA AMÉRICA
E quando eu pensava que já tinha visto o melhor filme de sempre e que mais nada poderia superá-lo, eis que aparece esta última obra prima de Sergio Leone, que me levou a ver toda a sua curta filmografia (valem a pena também «O Bom, o Mau e o Vilão», «Aconteceu no Oeste» e o subvalorizado «Aguenta-te Canalha!»). Se alguma vez o Cinema esteve perto de ser confundido com Poesia, foi em «Era Uma Vez na América». Foi um marginalizado dos Oscares (nem a banda sonora fabulosa de Ennio Morricone foi nomeada! Sacrilégio!) por causa do ridículo "theatrical cut" lançado nos EUA, cujo responsável foi um senhor que trabalhou nos filmes da «Academia de Polícia»... não é preciso dizer mais nada, pois não? E recentemente, Martin Scorsese tentou restaurar as partes cortadas da "cut" original por Leone, que reduziu o filme cerca de uma hora (e que disse que esta era a sua versão final), mas a edição que é a conhecida do grande público já é excelente. Porquê estar a mexer em algo intocável? Sentem-se bem e vejam Robert de Niro na melhor performance de toda a sua carreira (sim, é o sogro do Focker, para aqueles que gostam mais das investidas cinematográficas mais recentes deste grande ator), vejam um cast formidável, vejam uma história, uma realização, uma banda sonora e uma fotografia espetaculares que tornam este filme um final impressionante de carreira de um dos realizadores mais esquecidos pelos "intelectuais". O Cinema não é só Godard ou Ford, felizmente! Houve mais pessoas que souberam engrandecer e imortalizar a Sétima Arte ao jeito da beleza das imagens, como Sergio Leone.




1 comentário:

  1. Pensando agora, talvez poderia ter completado a lista com dois outros filmes que adoro: Laranja Mecânica e Young Mr Lincoln, mas é a vida xp
    Há muitos outros filmes que tenho no meu coração, e quis reduzir-me aos essenciais. Faltará sempre algum, no fim de contas...
    Um Abraço e obrigado,
    Rui Alves de Sousa

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